Uma análise do ciclo pecuário e perspectivas futuras
A criação de animais bovinos destinados à produção de carne é bastante influenciada por fatores externos ao ambiente da fazenda. Dentre eles, pode-se destacar a variação dos preços da arroba do boi que é determinada pela lei da oferta e demanda. É fato que a variação dos preços pode afetar de maneira substancial o resultado econômico dos produtores rurais.
Pelo lado da oferta, existem algumas variáveis que podem impactar a quantidade de animais ofertados. Por exemplo, se tem: área destinada à pastagem, qualidade genética dos animais, sistema produtivo, ciclo pecuário, entre outros. Esse artigo focará na análise do ciclo pecuário.
A arroba do boi gordo influencia nos preços de outras categorias animais, sendo mais intensa no boi magro e no bezerro voltado à recria, tal fato pode estar relacionado com o ciclo pecuário, que é condicionado pela variação no estoque de matrizes, que resulta na quantidade de bezerros e animais para engorda no futuro (SACHS; PINATTI, 2007). Se houver uma maior disponibilidade de animais voltados para engorda, e a demanda por carnes for estável, haverá uma pressão de queda na arroba do boi.
O ciclo se baseia no volume de abate de matrizes ou de sua retenção, de forma resumida, quando os preços das crias estão em níveis que resultam em boas margens de lucro, a tendencia é que haja uma retenção de matrizes, pois a cria está economicamente favorável. De forma oposta, quando há uma queda nos preços dos bezerros o abate de matrizes se intensifica, resultando em um abate maior vacas.
O ciclo completo pode levar em torno de cinco anos, incluindo a fase elevação dos preços e redução dos preços, porém com inovações tecnológicas sendo implementadas (por exemplo: cruzamento industrial), a duração dos ciclos tem diminuído. (SILVEIRA, 2002). O gráfico 1 apresenta os valores do boi gordo de 18@, os preços dos bezerros deflacionados e as suas relações de troca, entre os anos 2010 e 2024.
Gráfico 1: Preços reais do boi gordo de18@, bezerro e relação de troca (boi gordo / bezerro), de jan. 2010 a out. 2024.
Depois de discutido o conceito de ciclo pecuário e uma breve explicação das movimentações dos preços via oferta de animais, se faz necessário fazer observações acerca dos dados apresentados nesse estudo. A partir de 2011, as fêmeas que ficaram disponíveis para cria nos anos anteriores, provocaram um aumento na quantidade de animais de reposição disponíveis no mercado e isso gerou uma redução nos preços da arroba do boi. (RENESTO, 2022).
Outro ponto que merece destaque é o pico da relação de troca em novembro de 2010 que foi de 2,82, em dezembro de 2019 de 2,47. O que esses números deixam em evidência é que, tanto em novembro de 2010 e em dezembro de 2019, logo após as elevações, houve uma correção da relação de troca para níveis menores.
Recentemente, nota-se um pico da relação de troca em outubro de 2024 que saiu de 1,93 em junho de 2024 e foi para 2,46 em outubro de 2024. O aumento substancial da arroba do boi que se intensificou de junho até outubro 2024, saindo de R$224,14 e em outubro foi para R$295,30, resultando em um crescimento de aproximadamente 32%. Por outro lado, o bezerro em junho de 2024 estava em R$2.095,18 e foi para R$2.168,52 em outubro de 2024, resultando em um aumento percentual de 3,5%. Tais movimentações deixam evidente que, os níveis de preços dos bezerros levam algum tempo para acompanhar o aumento do preço da arroba do boi. O que podem traduzir em oportunidades de compras da reposição.
Fazer suposições sobre preços futuros é algo bastante difícil devido as inúmeras variáveis envolvidas. Dado isso, não é o objetivo desse estudo fazer afirmações sobre tendências de preços da arroba do boi, pois não se sabe em qual momento estamos, pode ser que ainda não atingimos o ápice de elevação da arroba do boi. O que se pode esperar é alguma correção positiva do preço do bezerro (considerando a arroba no boi no mesmo nível) pois já é certo que a arroba do boi influencia diretamente o preço dos bezerros.
O gráfico 2 apresenta o indicador de preço dos bezerros no MS coletados pela ESALQ e são deflacionados com out de 2024.
Gráfico 2: Indicador de preços bezerros MS deflacionados de jan. de 2010 a out. de 2024.
No gráfico 3, se observa que de 2010 a 2012 houve um aumento na participação do abate de fêmeas, saindo de 29,96% em 2010 e indo para 34,91%. Uma possível explicação para esse movimento seria a redução no preço dos bezerros, que saiu de abril de 2011 a R$1.665,89 para R$1.377,68 em dezembro de 2012, retraindo mais de 20%. Esses dados reforçam a característica do ciclo pecuário, quando há uma redução da margem da cria, a tendencia é aumentar os abates de fêmeas.
Até em 2018 se vive um período de relativa estabilidade quando se trata do abate de vacas. Porém o preço da arroba segue em queda até em meados do final de 2019, onde há reversão da tendencia da arroba e assim novamente se observa uma retenção de matrizes, atingindo o seu ápice em 2021. Diante disso se nota que houve mais ou menos 3 anos de altas e retenção de fêmeas. Em 2024 vai completar 3 anos de aumento do descarte de matrizes.
Portanto, de acordo com tudo o que foi exposto nesse estudo, temos argumentos fundamentados de que estamos em um momento de reversão do ciclo pecuário. Mas há de ter cautela, pois existem fatores de demanda externa e interna que podem influenciar na arroba do boi gordo, determinantes esses que não estão dentro da perspectiva de ciclo pecuário.
Gráfico 3: Participação (%) do abate de vacas em relação ao total de cabeças de gado abatidas no Brasil, de 2010 a 2024.
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Referencias
CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA (Piracicaba) (comp.). Indicador boi gordo Cepea/B3. Disponível em: https://www.cepea.esalq.usp.br/br/indicador/boi-gordo.aspx. Acesso em: 23 out. 2024.
CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA (Piracicaba). Indicador do bezerro ESALQ/BM&FBovespa – Mato Grosso do Sul. Disponível em: https://www.cepea.esalq.usp.br/br/indicador/bezerro.aspx. Acesso em: 11 abr. 2022.
IBGE (Rio de Janeiro). Pesquisa Trimestral do Abate de Animais. 2022. Disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/abate/tabelas. Acesso em: 23 out. 2024.
SACHS, Raquel Castellucci Caruso; PINATTI, Eder. Análise do comportamento dos preços do boi gordo e do boi magro na pecuária de corte paulista, no período de 1995 a 2006. Revista de Economia e Agronegócio, Viçosa, v. 5, n. 3, p. 329-351, 10 jul. 2007.
SILVEIRA, Rodrigo Lanna Franco da. Análise das operações de cross hedge e do hedge do boi gordo no mercado futuro da BM&F. 2002. 122 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Área de Concentração em Economia Aplicada, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Piracicaba, 2012.