Entenda aqui o processo de Avaliação dos Touros Bonsmara
Conheça mais sobre o método de avaliação Qualitas Bonsmara e os benefícios que este programa agrega aos Touros Bonsmara Barra Grande
O Governo da África do Sul reconheceu em 1937 que as raças bovinas de corte europeias não conseguiam sobreviver, em condições satisfatórias, no clima tropical/subtropical do país. Além deste fato, a principal raça nativa, a Afrikaner, apesar de resistente ao calor e de apresentar boa carne, apresentava baixa produtividade.
Com este cenário, o governo sul-africano desafiou o jovem Zootecnista, na época, Jan Bonsma a criar uma raça de gado de corte resistente às condições de clima tropical e, ao mesmo tempo, com alta produtividade. Assim, Bonsma deu início a uma séria de cruzamentos com várias raças europeias locais. Os animais provindos destes cruzamentos foram extensivamente avaliados para que possuíssem resistência ao calor, sendo analisados: frequência respiratória, frequência cardíaca, comprimento e espessura de pelo, capacidade de andar longas distâncias e quantidade de glândulas sudoríparas.
Todo este processo de mensurações e avaliações resultou em um animal 5/8 Afrikaner (Sanga) e 3/16 Hereford e 3/16 Shorthorn (Taurinos Britânicos), que apresentava excelente “eficiência funcional”. No processo de avaliação, nenhum defeito que afetasse a performance e a reprodução dos animais era permitido. Os machos de algum cruzamento eram muitas vezes totalmente descartados, pois possuíam algum problema na sua eficiência funcional.
Desta forma, a raça Bonsmara é a única raça de gado de corte produzida pela ciência, cuja base é: fertilidade, musculatura, adaptação, docilidade e excelente qualidade de carne.
Esta raça foi trazida ao Brasil pois as condições ambientais se assemelham às condições encontradas no país sul-africano. No Brasil, a raça passa por rigoroso processo de avaliação, denominado Programa Qualitas.
Neste texto, vamos te explicar como é este processo de avaliação e as vantagens em possuir um touro que possui avaliação criteriosa desde a formação de sua raça.
O que é o Programa Qualitas?
O Programa Qualitas é um programa de melhoramento genético que visa especificamente a produção de carne nas regiões tropicais. Possui como objetivo a seleção (por meio de técnicas científicas e modernas) de animais que potencialmente serão os melhores reprodutores para o rebanho, utilizando, de forma eficiente, os recursos com o máximo de ganho.
Método de seleção:
O animal deve ter todo o seu histórico acompanhado (desde o nascimento) para ser qualificado no Programa Qualitas. São verificados o peso a desmama, o perímetro escrotal e o peso aos 15 meses. Estas informações serão utilizadas para gerar as avaliações genéticas e será estabelecido um ranking dos animais.
Os animais, obrigatoriamente, têm que ser provados em duas AVAs (Avaliações Visuais de Adequação) ou características funcionais, sendo: uma aos 15 meses (antes das avaliações genéticas) e outra aos 18 meses (no momento de aprovação final da certificação).
Índice de Qualidade:
Um índice genético é estabelecido para a seleção e classificação dos animais, o Índice Qualitas. Este índice genético tem 60% do seu peso diretamente sobre as características de extrema importância para quem produz carne a campo, que são ganho pós desmama e musculosidade. Os outros 40% do seu peso é relacionado a características importantes para a produção de matrizes, como o peso a desmama e o perímetro escrotal (o perímetro escrotal é relacionado à precocidade sexual das fêmeas).
O índice é ponderado do seguinte modo: 20% peso da desmama + 40% ganho de peso pós desmama + 20% perímetro escrotal + 20% musculosidade.
Com este índice, os animais são verificados visualmente novamente, aos 18 meses de vida, a fim de serem provados e certificados, sendo os touros com os melhores índices selecionados para o teste de eficiência alimentar.
Ao final, apenas os melhores dez reprodutores são selecionados para o teste de progênie, de forma a garantir o avanço genético do rebanho.
Avaliação Funcional:
A avaliação funcional dos animais visa identificar características externas que se correlacionam com a fisiologia e produtividade. No Programa Bonsmara Qualitas, a avaliação funcional é utilizada de forma complementar às características de produção.
Nos touros são avaliadas 16 características externas, sendo elas:
- Angulação de garupa:
É importante que a matriz possua a garupa ligeiramente inclinada para que o parto do bezerro seja facilitado. Matrizes com garupas planas possui conformação da pélvis que dificulta o nascimento do bezerro pois diminui o chamado “canal do parto”. Notas de 1 a 5 são dadas a esta característica, sendo 1 garupa excessivamente inclinada e 5 garupa excessivamente plana. Ideal é a matriz que apresenta nota 3.
2. Aprumos:
Dificuldade de locomoção é uma das limitações decorrentes de problemas de aprumo. No caso de touros, os problemas de aprumo também podem comprometer a reprodução, uma vez que pode impedir que o mesmo efetue o salto durante a cobertura das vacas.
Os aprumos são avaliados lateralmente, frontalmente e por trás do animal em movimento. As notas são de 1 a 5, sendo 1 aprumos extremamente angulosos (parece que o animal está sentado sobre os membros posteriores) e 5 aprumos retos (denominado “perna de frango). O aprumo ideal recebe nota 3.
3. Boca:
Como os bovinos alimentam-se de capim, a avaliação da boca é extremamente importante, por é a “colhedora” de alimento para o animal. As notas referentes à boca também vão de 1 a 5 e quanto mais larga a boca, maior a nota e melhor a característica, pois o animal apresentará maior capacidade em se alimentar.
4. Cascos:
Assim como a avaliação dos aprumos, a avaliação dos cascos também é fundamental pois são a base de sustentação e locomoção dos bovinos. Qualquer má formação ou machucado comprometerá o desempenho e até mesmo a própria sobrevivência do animal. No Programa Qualitas, os animais que apresentam problemas de cascos, qualquer que seja, mas principalmente cascos compridos, são descartados.
5. Chanfro:
O desvio de chanfro é um desvio ósseo comum, também chamado de “cara torta”. Mesmo às vezes não sendo possível comprovar se o desvio de chanfro é genético ou se foi causado por algum acidente (como uma “porteirada”), o Programa Qualitas prefere descartar o animal.
6. Espessura do Couro:
A espessura do couro dos animais é uma característica muito importante, pois animais com couro grosso apresentam maior vascularização na pele e maior número de glândulas sudoríparas. Além disto, a pele funciona como barreira mecânica contra bernes e bicheiras. A medida do couro é realizada com paquímetro e são selecionados animais com couro mais grosso, uma vez que são animais mais adaptados.
7. Frame:
O frame (diz-se “fraime”) é uma referência à altura do animal. Os dois extremos (animais muito altos ou animais muito baixos) são indesejáveis. Animais muito baixos não alcançarão o peso ideal de abate e animais muito altos normalmente são tardios, do ponto de vista reprodutivo e de acabamento de gordura, além de apresentarem pior rendimento de carcaça. As notas variam de 1 a 5, sendo animais nota 1 muito baixos e animais nota 5 muito altos. A nota 3 é refere-se à altura ideal.
8. Linha de dorso:
É verificado se o animal, visualmente, não apresenta nenhum defeito na coluna vertebral, que é o eixo de sustentação do tórax e abdômen. Animais que apresentam escoliose (animais “selados”) ou com algum outro desvio na coluna são descartados.
9. Musculosidade:
Para produção de carne, obviamente, quanto maior o desenvolvimento muscular, melhor será o rendimento de carcaça. Dois pontos (nos quais não há risco de confundir gordura com músculo) são verificados para a avaliação da musculosidade. O primeiro ponto é o perímetro do antebraço, de forma que quanto maior o perímetro e mais desenvolvidos os músculos dessa região, maior será a quantidade de músculo na carcaça. O segundo ponto é o músculo do “patinho” no membro posterior do animal. Quanto mais proeminente e destacado for, melhor a musculosidade. As notas neste critério variam de 1 a 6, sendo que quanto maior a nota, melhor.
10. Ossatura:
A espessura dos ossos é importante para que o animal possua capacidade de suportar seu peso sem afetar sua locomoção. Contudo, animais com ossatura muito grossa desgastam-se mais e não conseguem acompanhar o rebanho, principalmente se forem touros em estação de monta. As notas variam de 1 a 5, sendo que animais nota 1 apresentam ossatura muito fina e animais nota 5 apresentam ossatura muito grossa. O ideal é nota 3.
11. Pigmentação:
Devemos selecionar animais bem pigmentados e evitar animais despigmentados (áreas com pele rósea). As notas vão de 1 a 4, sendo nota 1 para despigmentação muito grande (estes animais são descartados), nota 2 para despigmentação em regiões baixas do corpo, nota 3 para boa pigmentação com exceção das extremidades (vulva e testículos) e nota 4 para animais muito bem pigmentados, com vulva e testículos também pigmentados.
12. Profundidade:
Costelas compridas e bem arqueadas devem ser buscadas por quem produz carne a pasto, pois indica que o animal tem boa “usina para processamento do capim”. As notas variam de 1 a 5 e quanto maior, melhor.
13. Reprodução:
O touro deve apresentar cabeça bem desenvolvida e masculina. A musculatura deve ser bem desenvolvida e não deve haver acúmulo homogêneo de gordura na carcaça. As notas variam de 1 a 6 e quanto maior a nota melhor.
14. Temperamento:
Quando avaliamos temperamento, avaliamos o medo que o animal tem do ser humano e não necessariamente a agressividade do animal. O medo entre os animais é herdável. Animais mais mansos (menos medrosos) geralmente apresentam desempenho melhor pois sofrem menos estresse. As notas variam de 1 a 5 e quanto maior a nota, mais manso é o animal.
15. Testículos:
Além da medida do perímetro escrotal e da avaliação visual para reprodução, os touros são avaliados em relação ao posicionamento dos testículos na bolsa escrotal.
Segundo observações feitas na África do Sul por Danie Bosman, verificou-se que as filhas de touros que apresentavam testículos que não estavam posicionados paralelamente e com as pontas dos epidídimos na mesma posição eram mais rapidamente descartadas do rebanho por estarem vazias ao final da estação de monta. Qualquer desvio no padrão normal dos testículos é um defeito genético e deve ser evitado. No Programa Qualitas os animais são classificados com notas de 1 a 3. Nota 1 para animais com torção testicular maior que 45º, nota 2 para torção testicular menor que 45º e nota 3 para animais com testículos bem posicionados ou normais.
16. Umbigo:
Quando nos referimos aos touros, o comprimento do umbigo é importante pois grande parte das pastagens do Brasil são de porte médio a alto, além de serem encontrados tocos e outras plantas. Devido a isto, touros de umbigo compridos têm maiores chances de machucarem o prepúcio e serem inviabilizados para reprodução. Já touros com umbigo muito curto, geralmente, apresentam menor quantidade de couro e desenvolvimento inferior. As notas variam de 1 a 5, sendo 1 umbigo muito curto e 5 umbigo muito comprido. O ideal é a nota 3.
Vantagens em possuir um touro que possui avaliação criteriosa:
Segundo a Embrapa (2009) o melhoramento genético é de grande importância para pecuária de corte, por meio do qual os pecuaristas podem aumentar a eficiência de produção e lucratividade de seus rebanhos.
Para produzir carne em condições a pasto, deve-se buscar um touro criado em um sistema de seleção a pasto. Animais selecionados em ambiente muito distinto da realidade da sua fazenda, como sistemas de confinamento, podem não trazer os resultados esperados. Os touros da raça Bonsmara Barra Grande foram selecionados, desde a formação da raça, para produzirem bem e com qualidade em clima tropical em condições de manejo a pasto.
Seguem abaixo mais vantagens em possuir um touro melhorador com avaliação criteriosa:
- Aumento da produtividade: maior rendimento de carcaça;
- Valorização: rebanho mais valorizado quando há padronização;
- Fertilidade: touros melhoradores registrados possuem exame andrológico positivo, fato que garante fertilidade e retorno financeiro do investimento logo no primeiro ano.
Toda a avaliação criteriosa pela qual os touros da raça Bonsmara Barra Grande passaram e ainda passam, garantem seus resultados positivos no cruzamento industrial. O cruzamento industrial é feito entre duas raças com características complementares, obtendo-se um animal com maior resistência, peso e qualidade de carne. Nos bovinos, o cruzamento mais comum é entre taurinos e zebuínos, como o Bonsmara e Nelore, respectivamente.
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